Meditada e comentada por Plinio Corrêa de Oliveira
Na cidade espanhola de Úbeda (Andaluzia), realizam-se a cada ano piedosas e magníficas procissões na Semana Santa, com uma força de expressão e uma sacralidade ímpares.
A Fé, servida pela piedade e cultura católicas, reluz de modo empolgante, num contexto arquitetônico religioso e nobiliárquico excepcional.
Quase 14.500 dos 32.500 habitantes da cidade estão inscritos em Confrarias e Irmandades devotadas aos passos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.As mais antigas tomaram forma no século XVI. Mas a maioria é do século XX, tendo superado as devastações feitas pelos comunistas na Guerra Civil espanhola (1936-1939), e pela crise pós-conciliar* .
Imagens e andores, em estilo tradicional, são entretanto de elaboração recente. De fato, quando o autêntico espírito de fé procura formas de sublimidade, como que instintivamente se aproxima dos modelos da grande e solene ordem medieval.
Nas cerimônias de Ubeda, a co-redenção de Nossa Senhora vem admiravelmente ressaltada pela ardente devoção espanhola. Cada passo da Paixão de Nosso Senhor é seguido de um outro que explicita e comenta o papel da Mãe de Deus.
A maravilhosa e confortadora verdade da co-redenção ocupa também lugar central na visão do universo, do Prof. Plinio, especialmente em função da atual crise da Igreja
“Assim como a Redenção foi a culminância da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, a co-redenção foi o ápice da existência de Nossa Senhora.O divino Redentor sofreu na Paixão por todas as vicissitudes que a Igreja Católica enfrentaria nas eras vindouras. Ele conheceu todas as misérias da Igreja na situação atual. Elas [Lhe] arrancaram os seus gemidos mais pungentes, pois a Santa Igreja é a Sua obra-prima.
Em verdade, como São Pio X denunciou na encíclica Pascendi Dominici Gregis, uma conspiração interna, o modernismo [e posteriormente o seu sucedâneo, o progressismo] pretende destruir a Igreja Católica.Trata-se da obra mais nefasta contra os frutos da Redenção. É como um novo deicídio, de cunho preternatural tão acentuado, que só seria exeqüível por mãos consagradas
Nesse panorama, o que é o mais importante para a minha vida de católico?
Não é o que eu vou fazer amanhã, mas é acompanhar em espírito essa Paixão da Igreja. É tê-la permanentemente como fundo de quadro, agir, rezar, sofrer, ter compaixão pela Igreja”.
Irmandades e Confrarias estimuladas por Santos e aprovadas por Papas e Concílios
As vestimentas das Irmandades ou Confrarias aqui descritas destoam do ateizado mundo moderno. Mas elas apresentam um rico passado católico.Foram aprovadas por Papas e Concílios desde a Idade Média. Naquela época, representava-se a Paixão diante das catedrais.Os intérpretes eram simples fiéis, que se recobriam despretensiosamente com roupas alegóricas e as cores da Liturgia. Esta é a origem remota das túnicas e chapéus (capirotes), que ocultam o rosto.
Desde 1411, São Francisco Ferrer criou na Espanha e França companhias de penitentes que faziam penitência pública e profissão de Fé, em grupos, por ruas e estradas.
Visavam reparar as ofensas feitas a Nosso Senhor, durante a Paixão, e os pecados da época. Nos séculos XVII e XVIII na França, São Luis Maria Grignion de Montfort agiu de modo análogo.No século XVI, com o estímulo do Papa Paulo III e do Concílio de Trento, as confrarias penitenciais revestiram–se de esplendor externo, oposto ao ascetismo hirto e vazio do protestantismo.Tais associações, ou pias uniões, também intensificaram muito o culto a Nossa Senhora.
Elas florescem hoje em toda a Espanha, especialmente na Andaluzia. Mas há congêneres das mesmas, notadamente na América Central, no Peru, na Colômbia e no Equador .
Fonte: Revista Catolicismo