quinta-feira, 1 de outubro de 2009

São Pio de Pietrelcina atrai multidões - parte 2



Catolicismo — Certa vez V. Exa. me disse que o secretário do Padre Pio contou-lhe muitas recordações do santo. Poderia narrar algumas delas para nossos leitores? Por exemplo, o Padre Pio tinha o dom da clarividência?

Dom Laise — O Padre Paolo (que no refeitório senta-se à minha esquerda) administrou a Santa Unção ao Padre Pio, momentos antes de seu falecimento, e escreveu um livro com base em testemunhos pessoais.

Em mais de uma ocasião ele me disse: “O Padre Pio sabia tudo. Sabia o que os outros pensavam, o que ia suceder ou não. Sabia a respeito dos comunistas que havia no Vaticano nos tempos de Pio XII. Sabia tudo sobre as pessoas que vinham observá-lo, sem que ninguém lhe tivesse dito algo em cada caso”.

Catolicismo — O Padre Pio foi um apóstolo do confessionário. Existe hoje uma diminuição na prática desse Sacramento. O que diria o Padre Pio a respeito disso? Como ele nos ajudaria a fazer uma boa confissão?

Dom Laise — O confessionário foi, junto com o altar, o centro de sua ação apostólica. Confessava durante muitas horas, de manhã e à tarde. Às vezes recusava-se a atender quem vinha confessar-se sem estar com boa disposição. Um desses penitentes contou-me que ele viajava todos os meses de Florença até San Giovanni Rotondo, para agradecer ao Padre Pio a recusa de que fora objeto na primeira ocasião de confessar-se, porque tal recusa constituiu o ponto de partida de sua conversão.

Ele pedia humildade aos penitentes, para receberem a graça do perdão, e o reconhecimento de que, sem o auxílio do Senhor, nada podemos. A absolvição perdoa o pecado, e ao mesmo tempo comunica forças para não se reincidir nele.

Catolicismo — Dizem que o Padre Pio via as razões profundas da crise da sociedade contemporânea. Como é que ele enfrentava o que Paulo VI qualificou de “fumaça de Satanás” que penetrou na Igreja?

Dom Laise — O demônio perseguiu o Padre Pio durante toda sua vida. Por isso, ele é um mestre quanto à recusa do demônio na vida cristã. Repetia que, na luta contra o poder do mal, devemos ser muito decididos em recusar a menor tentação, com o auxílio da graça divina. Devemos estar prevenidos, pela oração contínua, e fortalecidos pelo Sacramento da Eucaristia e a proteção maternal da Santíssima Virgem.

Ele previa que a ação do demônio seria mais agressiva nos tempos vindouros. Às mães, pedia que rezassem muito por seus filhos e netos, a fim de que não decaíssem da condição de filhos de Deus, devido aos ataques cada vez mais virulentos do Maligno. Pudessem assim corresponder ao plano de salvação obtido pela morte de Cristo na Cruz.
Catolicismo — Após governar durante muitos anos a diocese de San Luis, na Argentina, a Divina Providência trouxe V. Exa. a San Giovanni Rotondo. Seria indiscreto de nossa parte perguntar algo sobre seu apostolado?

Dom Laise — Na diocese de San Luis, servi a Igreja durante 30 anos. Julguei que o melhor modo de continuar meu ministério episcopal até a morte era tornar-me instrumento para obter o perdão dos pecadores.

Nosso Senhor Jesus Cristo conferiu aos Apóstolos o poder especial de perdoar os pecados. Administrar o Sacramento da penitência foi, portanto, conferido aos Apóstolos, e através deles a seus sucessores, os bispos, até o fim do mundo.

Em San Giovanni Rotondo, a sala das confissões foi o lugar mais importante e mais amado pelo Padre Pio, e através do confessionário ele continua atraindo os pecadores. Ali podem-se perceber conversões verdadeiras, com seus efeitos de paz e alegria, não poucas vezes acompanhadas de lágrimas de reconhecimento e agradecimento pelo encontro com Deus, única fonte da única e autêntica felicidade.

“O mais notável de sua atitude face à perseguição, injúrias e incompreensão, foi sua aceitação da dor, do sofrimento e da prova”.

Catolicismo — O Padre Pio, durante sua vida, foi incompreendido por muitos, inclusive segregado injustamente. Qual foi o papel dessas provações na vida dele?

Dom Laise — A vida do Padre Pio foi uma contínua provação e sofrimento, por causa da incompreensão e perseguição permitidas por Deus para a sua santificação.

A santidade do Padre Pio é uma expressão da santidade de Deus, não tanto por seus carismas particulares, pelas chagas nas mãos, pés e peito, mas pelas perseguições que, desde que ele recebeu os estigmas, o acompanharam até a morte.

Incompreensão e perseguição de sacerdotes e bispos, gerando visitas apostólicas determinadas por dicastérios da Igreja, e conseqüentes decisões que o impediam de exercer seu ministério sacerdotal, de dirigir as almas, segregando-o durante dois anos. Ele foi proibido de se comunicar com aqueles que procuravam um conselho ou o perdão dos pecados, de celebrar a santa Missa em público, de ter contato até com seus próprios co-irmãos da Ordem Capuchinha, etc.

O mais notável de sua atitude face à perseguição, injúrias e incompreensão foi a aceitação da dor, do sofrimento, da prova, com espírito de oblação, sem externar em momento algum, durante toda sua vida, uma palavra de queixa, de recusa ou de menosprezo em relação àqueles que o ofenderam.

Sua fórmula de santificação foi: “Aceitar as provações que o Senhor permite ou suscita, para nos santificarmos e nos identificarmos com as injúrias sofridas por Cristo em toda sua vida, e particularmente na sua Paixão e Morte na Cruz, para salvar os homens até o fim dos séculos”.

Catolicismo — Muitos santos capuchinos pregaram contra os males do seu tempo. O Beato Marco d’Aviano alentou os católicos que lutavam para liberar Viena dos turcos. O Padre Pio nos envia alguma mensagem análoga para libertar nossa época do neopaganismo?

Dom Laise — Na libertação de Viena, o Beato Marco d’Aviano infundiu coragem e confiança por meio do Rosário de Nossa Senhora e da união com Nosso Senhor Jesus Cristo presente na Eucaristia.

Como ele, São Pio de Pietrelcina é também protagonista de uma cruzada que os filhos da Igreja devem realizar pela salvação da sociedade contemporânea.Com efeito, esta encontra-se impregnada de auto-suficiência humana, não levando Deus em conta ou negando-O direta ou indiretamente na vida privada e pública, impregnada do mais crasso relativismo e desprovida de conteúdos substanciais e de leis constitutivas para a realização do homem e da família.

Para o triunfo da cruzada de salvação mundial, o Padre Pio colocou em primeiro lugar a oração, particularmente aquela que ele chamava “sua arma” — o Santo Rosário —, unindo-se ao pedido da Santíssima Virgem em Lourdes e em Fátima, para implorar de um modo especial pela conversão dos pecadores.

A mensagem do Padre Pio é, além do mais, essencialmente eucarística, instando na assistência diária ao Sacrifício do altar e na recepção da comunhão do Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo. Ele próprio relembrava freqüentemente, no confessionário e na direção espiritual: “O que aconteceu no Calvário, quando Cristo morreu na Cruz pela salvação do mundo, volta a se repetir cada vez que o sacerdote celebra a Missa no altar”.

Catolicismo — Como era a devoção dele a Nossa Senhora?

Dom Laise — O Pe. Pellegrino, filho espiritual do Padre Pio, que viveu a seu lado muitos anos, atesta que ele havia se consagrado a Nossa Senhora, segundo os ensinamentos de São Luís Maria Grignion de Montfort no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, e foi escravo voluntário de Jesus e de Nossa Senhora “na vida e na morte”. E sugeria ao Pe. Pellegrino que fizesse o mesmo: “Eu te garanto que é infinitamente necessário e útil, para nós, colocarmo-nos nas mãos de Nossa Senhora como criancinhas”.

Poucos dias antes de morrer, foi pedido ao Padre Pio uma lembrança, uma espécie de testamento espiritual. Ele disse: “Amate la Madonna. Fatela amare. Recitate la Coronna. Recitatela bene” (Amai a Nossa Senhora. Fazei-A amar. Rezai o Rosário. Rezai-o bem).

O Padre Pio unia-se a Maria Santíssima quando administrava o sacramento da Penitência, e pedia a Ela que agisse nas almas para a sua conversão e santificação.

Eu teria muito mais a dizer, mas espero já ter atendido ao desejo dos leitores. Peço à Virgem Santíssima e ao Padre Pio que estas palavras possam fazer muito bem às almas e obtenham que muitas delas sigam a Jesus Cristo mais de perto, procurando se identificar mais com Ele, pela intercessão de Nossa Senhora, como o fez o Padre Pio nesta santa casa, durante 50 anos.

Fonte: Catolicismo