quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Na casa de Maria



Padre Giuseppe Santarelli fala sobre a “Casa da Virgem” de Loreto

Por Renzo Allegri

ROMA, domingo, 27 de setembro de 2009 (ZENIT.org) – Dia 8 de setembro, a Igreja celebrou a festa do nascimento de Maria. Na Itália, a festa possui um significado especial no Santuário de Loreto, localizado na província de Ancona. Ali está a "Casa da Virgem", um pequeno prédio que, segundo a tradição, teria sido a moradia em Nazaré dos pais de Maria, lugar, portanto, onde a Santíssima Virgem teria nascido e crescido.

Este casebre, objeto de grandíssima reverência desde o início da história cristã, de repente desapareceu de Nazaré para aparecer alguns anos mais tarde nas colinas de Loreto, onde ainda se encontra.

O fato naturalmente causou espanto. Foram verificadas em seguida maravilhas de todos os tipos: milagres, curas, conversões, que fizeram pensar que aquela pequena e misteriosa construção tivesse poderes sobrenaturais. Em seguida, soube-se que aquela casa antigamente se encontrava em Nazaré.

Não encontrando explicações de como ela poderia ter chegado a Loreto, pensou-se que tivesse sido transportada pelos anjos. De qualquer forma, a devoção em seguida foi enorme.

Para proteger a casa, foi construído um santuário maravilhoso, que se converteu em um dos mais famosos da Europa, visitado por inúmeros devotos. Ao longo dos séculos, 13 papas se dirigiram em peregrinação a Loreto, o último Bento XVI, em 2007. João Paulo II esteve lá quatro vezes.

Nos anais do Santuário são lembrados os nomes de muitas pessoas que em vida foram em peregrinação a Loreto e que, após a morte, foram proclamadas santas.

Figuram também os nomes de inúmeras celebridades seculares, como Cristovão Colombo, Galileu Galilei, Vittorio Alfieri, Torquato Tasso, Mozart, Goldoni, Josué Carducci, D'Annunzio. Michel de Montaigne, filósofo e político francês, foi em peregrinação a Loreto em 1580 para agradecer à Virgem por uma graça que ele recebeu para sua filha Eleanor. Descartes também foi cumprir uma promessa, fazendo a pé o caminho de Veneza a Loreto.

Portanto, sempre foi grande a devoção das pessoas por este santuário onde se mantém o "berço da Mãe de Deus".

Mas esta expressão, "berço da Mãe de Deus", qual valor tem? É apenas o resultado de uma “tradição piedosa", de uma "crença popular", ou é baseada em razões mais concretas, em artigos científicos?

É uma pergunta que surge naturalmente, especialmente para as pessoas de hoje, cheias de ceticismo. Pergunta, porém, que por parte dos peritos, recebe respostas científicas incrivelmente desconcertantes.

"A história diz que a casa apareceu de repente neste lugar na noite de 9 para 10 de dezembro de 1294", disse o padre Giuseppe Santarelli, diretor da instituição, que tem por objetivo difundir o culto de Maria e cuidar da promoção e decoração artística do santuário.

"Que ela foi transportada pelos anjos, não podemos provar cientificamente. Entretanto, hoje, depois de anos de estudos, de análises, de investigações arqueológicas realizadas com os meios mais sofisticados, somos capazes de afirmar categoricamente que esta casa é exatamente aquela que até o final do século XIII era reverenciada em Nazaré como a casa da Virgem".

Pe. Giuseppe Santarelli é um religioso capuchinho, mas também um famoso cientista. Historiador e arqueólogo de renome internacional, dedicou grande parte da sua vida para organizar, em colaboração com outros cientistas famosos, pesquisas sobre a origem da casa misteriosa. Suas numerosas publicações sobre o caso fizeram história.

E os dados científicos fornecidos são verdadeiramente impressionantes, dão a entender como a fé "simples" de nossos avós diante da "Casa da Virgem" é apoiada em bases sólidas.

Ficamos dentro de um grande santuário de Loreto. A casinha da Virgem está à nossa frente. Paredes pobres, de pedras e ladrilhos envelhecidos pelo tempo, frágeis pelos anos, com intervenções realizadas no decorrer dos séculos, que comprovam a devoção e amor dos fiéis.

“Para os crentes, esta é a relíquia mais extraordinária”, afirma o padre Santarelli. “Por isso a chamamos de ‘Santa Casa’. Entre esses pobres muros nasceu e morreu a Virgem, quer dizer, a Mãe de Deus, a criatura mais santa que já existiu. Aqui, Maria recebeu o anúncio do Anjo e aqui, o maior acontecimento do universo: a encarnação divina.”

O religioso fala em voz baixa, para não atrapalhar os peregrinos que, ajoelhados, se recolheram para a oração.

“Vê essa inscrição em latim que está na parede à altura do tabernáculo?”, pergunta padre Santanelli. “Está escrito: Hic Verbum caro factum est. Quer dizer: aqui, neste lugar, Deus se fez carne”.

“Tente pensar no significado concreto dessa frase. Deus, o criador do Universo, neste lugar, frente a pedras, fez-se homem. Essas pedras assistiram ao acontecimento dos acontecimentos. Para um fiel, pensar uma coisa semelhante é como ficar louco. Este é o porquê desta casa continuar um patrimônio espiritual imenso”.

Por que foi trazida de Nazaré à Itália?", questiono. "Para salvá-la da destuição", disse o padre Santarelli. "Na segunda metade do século XIII, a Palestina vivia uma grande e violenta invasão mulçumana, com a destruição sistemática de lugares santos cristianos.

Alguém, homens, ou anjos, ou homens com ajuda sobrenatural, certamente trouxeram à Itália.

Mas por que a Itália e não outro lugar? “Não sabemos. Os antigos historiadores, fiéis naturalmente, diziam que ‘por um desígnio providencial’, a casa da Virgem havia passado da terra de Cristo à terra do Vaticano de Cristo”, Loreto então formava parte dos Estados Pontifícios.

Mas antes de se estabelecer na Itália, a casa fez etapas em outros lugares. As investigações históricas resultam que, em maio, no ano 1291, foi encontrada por alguns lenhadores em uma clareira perto de Tersatto, em Dalmacia. E ali permaneceu três anos e meio e sucederam muitos prodígios.

“Depois, de repente, como havia chegado, desapareceu. A segunda etapa foi uma localidade perto da estação de trem de Loreto, que então era um bosque e ali se deteve alguns meses. Passou depois à colina de Loreto, a um campo de dois irmãos, os quais brigavam com freqüência para dividir as oferendas que os peregrinos faziam. E a casa, aos poucos, saiu daquele campo e permaneceu no meio do caminho, onde se encontra agora. Dali não saiu mais”.

“Que investigações foram realizadas para estabelecer que aquela casa realmente era a mesma que existia, ao mesmo tempo, em Nazaré?”

“Foram realizadas investigações de todo tipo. Do tipo histórico, do tipo arqueológico, realizada por profissionais conhecidos tanto em Loreto, como em Nazaré, onde a Santa Casa se encontrava antes. Todas as investigações demonstraram sempre que a narração da história é autêntica. Isso quer dizer que a casa de Loreto é a mesma de Nazaré.

“Naturalmente as investigações mais importantes são as realizadas nos tempos modernos. Sobretudo as realizadas em Nazaré entre 1955 e 1960 supervisionadas pelo padre Bellarmino Bagatti, um dos mais ilustres arqueólogos do século XX, e as realizadas em Loreto pelo arquiteto Nerio Alfieri, professor de arqueologia em Bolinia”.

“As investigações do professor Alfieri demonstraram que esta construção está cheia de anomalias absurdas, em um claro contraste com as construções da região e também com as regras urbanísticas existentes no século XIII. A casa não tem bases próprias, está construída somente com três paredes, as quais, até uma altura de quase três metros, estão feitas de pedras e se sabe que na região não existem pedreiras e que todas as construções daquela época eram feitas de tijolos“.

“É anômalo que a única porta, a original, se encontra no centro da parede larga e não na pequena, como em todas as igrejas e capelas daquele tempo e que está colocada ao norte, exposta a fortes e freqüentes intempéries, contra todo costume de construção local. É anômalo também que a única janela esteja colocada a oeste e, portanto, aberta a uma pequena iluminação. Prática de construção também não exercida na época.

“Todavia, se resultados das investigações feitas em Nazaré forem comparados, todas estas anomalias desaparecem. A casa de Loreto não tem bases porque as bases estão em Nazaré, onde antes se encontrava. Tem somente três paredes porque estava apoiada em uma gruta escavada na rocha que abrigava um único bloco habitacional”.

Um estudo extraordinário realizado pelo arquiteto Nanni Monelli, em 1982, quando eu também estava em Loreto, demonstrou que se pudessem voltar a transportar a casa de Loreto a Nazaré, coincidiria perfeitamente com o que ali se encontrava.

As medidas da casinha em Loreto e também a espessura das três paredes correspondem perfeitamente com as medidas das bases que se encontram em Nazaré. As pedras e paredes são tipicamente palestinas e também os tipos de trabalho utilizados na pedra.

“Nanni Monelli realizou investigações profundas sobre as pedras. Chegou à conclusão de que estão trabalhadas com uma técnica específica desses lugares palestinos, própria da cultura nabatea. Isso quer dizer que aquela zona era habitada por um povo semita.

“Eu depois realizei um estudo específico sobre os gráficos legíveis sobre as diversas pedras da Santa Casa de Loreto. Identifiquei uns cinqüenta signos que se referem aos dos judeu-cristãos da Terra Santa e particularmente aos encontrados em Nazaré. Também decifrei uma inscrição em caracteres gregos sincopados, que traduzida diz: ‘Oh Jesus, filho de Deus’ , frase inicial de uma oração que se encontra escrita em uma gruta que estava anexa à casa de Maria em Nazaré.

“Estes e muitos outros detalhes levam a uma outra conclusão: a Casa de Loreto é precisamente aquela que até 1291 se encontrava na Palestina e que há 1.300 anos era verenada como a Casa da Virgem”.


Fonte: http://www.zenit.org/article-22787?l=portuguese