quarta-feira, 24 de março de 2010

Santa Clara de Assis - parte 2

Clara e sua comunidade praticavam austeridades desconhecidas entre as mulheres da época: não usavam meias, sapatos, ou qualquer outra proteção para os pés. Dormiam no chão: a cama era um monte de baraços de videira e o travesseiro uma acha de lenha. Observavam a abstinência completa de carnes, e falavam apenas quando obrigadas pela necessidade e pela caridade.

Clara aconselhava o silêncio como meio de evitar os pecados da língua e de conservar a mente sempre concentrada em Deus. Jejuava tanto que Francisco teve de obrigá-la a não passar um dia sequer sem comer ao menos um pedaço de pão. Clara mesmo percebeu seu exagero e mais tarde escreveu para Inês da Boêmia: "Nossos corpos não são feitos de bronze e nossas forças não são iguais à da pedra; por isso vos imploro, no Senhor, que vos abstenhais desse rigor excessivo da abstinência que praticais".

Como Francisco, Clara não aceitava qualquer propriedade. Quando o Papa Gregório IX lhe ofereceu uma renda, Clara protestou veementemente, dizendo: "Eu preciso ser absolvida dos meus pecados, mas não desejo ser absolvida da obrigação de seguir a Jesus Cristo". Em 1228, o Papa lhe concedeu o "Privilégio da Pobreza". Tinha sido um pedido insistente de Clara. Na Cúria romana, onde se pediam privilégios de títulos, propriedades, honrarias, causou até espanto alguém pedindo o "privilégio de ser pobre".

Clara e Francisco conheciam a alma do mundo e sabiam que qualquer exceção à regra da pobreza desencadearia sua negação. Francisco o exemplificou com o caso do livro que um frade queria ter: primeiro se quer um livro, depois mais livros, depois uma estante, vem uma biblioteca, segue-se uma casa para guardá-la e, adeus pobreza evangélica.

Mais tarde, em 1247, o papa Inocêncio IV queria impor às Senhoras Pobres uma Regra que de certo modo permitisse a propriedade comum. Preocupada, Clara mesma redigiu uma Regra, lembrada de tudo o que vira e aprendera com Francisco. E pede, por amor a Deus, que concedam ao Convento de São Damião o "Privilégio da Pobreza". Esta Regra foi aprovada dois dias antes de sua morte, valendo o privilégio para São Damião. Para os outros conventos, permitiu-se uma espécie de propriedade comum.

Francisco e Clara, amizade entre os Santos, a obra de Clara estava sempre no coração de Francisco. Muitas vezes ele enviou doentes e enfermos que ela conseguia curar à força de delicados cuidados. Apesar de sua humildade, Francisco era obrigado a reconhecer a grande admiração que Clara e as outras irmãs tinham por ele. Era uma admiração espiritual, suas preciosas Vidas são colocadas em realce para conhecimento e admiração do universo cristão. Inspirados no modelo Divino construíram com humildade e admirável perseverança, uma magnífica obra cujos ensinamentos e benefícios permanecem vivos, agraciando generosamente todos os corações que procuram caminhar na direção do CRIADOR.

Após longa ausência e depois de muitos pedidos das irmãs, um dia Francisco aceitou ir pregar em São Damião. Entrou na igreja e ficou um momento de pé, rezando de olhos levantados para o céu. Depois pediu um pouco de cinza. Com ela desenhou um círculo à sua volta e o resto passou na cabeça. E então rompeu o silêncio, não para pregar, mas para rezar o Salmo da Penitência (Sl 50). Depois foi embora, feliz por ter ensinado à Clara e às irmãs que nada mais podiam ver nele do que um pecador que fazia penitência.

Em março de 1225, já muito doente, Francisco visitou Clara em São Damião e manifestou o desejo de ali permanecer, mas a doença exigia tratamentos em outros lugares. Foi ali, sofrendo terrivelmente com a doença e o barulho dos ratos que lhe impediam o sono, que explodiu num hino de alegria ao Criador, o "Cântico do Irmão Sol". Foi no jardinzinho de Clara, e pela última vez, que os dois conversaram. No ano seguinte, morreu o pai Francisco e Clara viveu mais 27 anos dando continuidade à sua obra.

Clara de Assis, mãe e adoradora

A si própria Clara gostava de se denominar "uma plantinha do bem-aventurado pai Francisco".

Ela nunca deixou os muros do convento de São Damião. Designada abadessa (superiora) por Francisco, em 1215, Clara dirigiu o convento durante 40 anos. Sempre quis ser serva das servas, submissa a todas e beijando os pés das irmãs leigas quando regressavam do trabalho de esmolar, servindo à mesa, assistindo aos que estivessem doentes. Enquanto as irmãs descansavam, ela ficava em oração e as cobria, caso as cobertas lhes caíssem.

Saía da oração com o semblante tão iluminado que chegava a ofuscar a vista das que a olhavam. Falava com tanto fervor que chegava a inflamar os que mal ouviam sua voz.

A exemplo de Francisco, nutria fervorosa devoção ao Santíssimo Sacramento. Mesmo quando estava doente e acamada (esteve sempre doente nos últimos 27 anos de vida), ficava confeccionando belos corporais e toalhas para o serviço do altar, que depois distribuía pelas igrejas de Assis.

A força e a eficácia poderosa de sua oração pode ser sentida em 1244, quando o imperador Frederico II atacou o vale de Espoleto, tendo a seu serviço um exército de sarracenos. Lançaram-se ao saque de Assis, e como São Damião ficava fora dos muros, resolveram começar por ali. Embora muito doente, Clara fez colocar o Santíssimo num ostensório, bem à vista do inimigo. E Clara orou com grande fervor, pedindo a Cristo que salvasse suas irmãs do saque e da violência. Em seguida, orou pela cidade de Assis. No mesmo instante, o terror se apoderou dos assaltantes, que fugiram em debandada.

A morte de uma Santa

Clara suportou os longos anos de enfermidade com sublime paciência. Em 1253, teve início uma longa e interminável agonia. O papa Inocêncio IV deu-lhe duas vezes a absolvição com o perdão dos pecados, e comentou: "Queira Deus que eu necessitasse de perdão tão pouco assim". Doente e pobre, as mais altas autoridades da Igreja sentiam sua sabedoria e santidade e vinham aconselhar-se com ela em São Damião.

Durante os últimos 17 dias não conseguiu tomar nenhum alimento. A fé e a devoção do povo aumentavam cada vez mais. Diariamente, cardeais e prelados chegavam para visitá-la, pois todos tinham certeza de que era uma santa que estava para morrer.

Irmã Inês, sua irmã, estava presente, bem como os três companheiros de Francisco, os freis Leão, Ângelo e Junípero. Vendo que a vida de Clara estava chegando ao fim, emocionados, leram a Paixão de Jesus segundo João, como tinham feito 27 anos antes, na morte de Francisco.

Clara consolou e abençoou suas filhas espirituais. E, para si, disse: "Caminhas pois tens um bom guia. Ó Senhor, eu vos agradeço e bendigo pela graça que vós concedeste-me de poder viver". E foi recebida na corte celeste.

Era Senhora Pobre e tinha 60 anos de vida.

Clara morreu, a 11 de agosto de 1253. O Pontífice, que se achava em Assis, propôs celebrar o ofício das virgens e não o dos mortos, como demonstração de que considerava Clara já santa. Dois anos após sua morte (1255) Clara é declarada Santa.

Fonte: www.cot.org.br