Com a transcrição abaixo, de trechos escolhidos da obra Glórias de Maria,(*) de Santo Afonso Maria de Ligório, encerramos a presente série, recomendando a todos a leitura desse excelente livro.“Aquele que é amigo, o é em todo tempo; e nos transes apertados conhece-se o irmão” (Prov. 17, 17). Os amigos verdadeiros e os verdadeiros parentes não se conhecem no tempo de prosperidades, mas sim no das angústias e das desventuras. Os amigos do mundo não deixam o amigo enquanto está em prosperidade. Mas o abandonam imediatamente se lhe acontece uma desgraça, ou dele se avizinha a morte.
Tal não é o procedimento de Maria com seus devotos. Nas suas angústias especialmente da morte, que de todas são as piores, essa boa Senhora e Mãe não abandona seus fiéis servos. Como Ela é nossa vida no tempo do degredo, assim também quer ser nossa doçura no tempo da morte, obtendo-nos um suave e feliz trânsito. Desde aquele dia em que teve a dor e, ao mesmo tempo, a felicidade de assistir à morte de Jesus seu Filho, cabeça dos predestinados, obteve também a graça de assistir na morte a todos os predestinados. Por isso a Santa Igreja nos manda rogar à Bem-aventurada Virgem: Rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte.
Maria ao lado de seus servos, em vida e na hora da morte
Muito e muito grandes são as angústias dos pobres moribundos, já pelo remorso dos pecados cometidos, já pelo horror do próximo juízo, já pela incerteza da salvação eterna. É então que o inferno lança mão de todas as armas e empenha todas as reservas para ganhar aquela alma que passa para a eternidade. Bem sabe que pouco tempo lhe resta para obtê-la, e que para sempre a perde se então lhe escapar. “O demônio desceu a vós cheio de uma grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo” (Apoc. 12, 12). Habituado a tentá-la durante a vida, não se contenta de ser ele só que a tenta na morte, mas chama companheiros para o ajudarem. “Encher-se-ão as suas casas com dragões” (Is 14, 21). Quando alguém está para morrer, entram-lhe pela casa os demônios que, à porfia, tentam perdê-lo. [...]
Ah! Como fogem os demônios à presença de Nossa Senhora! Se na hora da morte tivermos Maria a nosso favor, que poderemos recear de todo o inferno? Reanimava-se Davi para as terríveis angústias da sua morte, pondo sua confiança na morte do futuro Redentor e na intercessão da Virgem Mãe. “Pois, ainda quando andar no meio das sombras da morte, não temerei os males; porquanto tu estás comigo. A tua vara e o teu báculo, eles me consolam” (Sl 22, 4,5). Pelo báculo entende o Cardeal Hugo o lenho da cruz, e pela vara a intercessão de Maria, que foi a vara profetizada por Isaías (11, 1). Esta divina mãe, diz São Pedro Damião, é aquela poderosa vara que vence todas as violências dos inimigos infernais. Anima-se por isso Santo Antonino, dizendo: “Se Maria é por nós, quem será contra nós?”. [...]
Como assevera Conrado de Saxônia, a Santíssima Virgem, em defesa dos fiéis moribundos, manda o príncipe São Miguel com todos os seus anjos, para protegê-los contra as tentações do demônio e lhes receber as almas, com especialidade as daqueles seus servos que se recomendaram continuamente a ela.
Notas:(*) Editora Vozes, Petrópolis, 1957, pp. 23 e ss.
Fonte: Revista Catolicismo