Prosseguimos com algumas considerações de São Luís Maria Grignion de Montfort(*) a respeito da suprema importância da devoção marial, sobretudo para aqueles mais chamados a uma perfeição particular.Maria é em toda parte a verdadeira árvore que dá o fruto da vida e a verdadeira mãe que o produz.
Se a devoção à Virgem Santíssima é necessária a todos os homens para conseguirem simplesmente a salvação, o é ainda mais para aqueles que são chamados a uma perfeição particular; nem creio que uma pessoa possa adquirir uma união íntima com Nosso Senhor e uma perfeita fidelidade ao Espírito Santo sem uma grande união com a Santíssima Virgem e uma grande dependência de seu socorro.
Só Maria achou graça diante de Deus (Lc 1,30), sem auxílio de qualquer outra criatura. E todos depois dela, que acharam graça diante de Deus, acharam-na por intermédio dela, e é só por Ela que acharão graça os que ainda virão. Maria era cheia de graça quando o arcanjo Gabriel a saudou (Lc 1,28), e a graça superabundou quando o Espírito Santo a cobriu com sua sombra inefável (Lc 1, 35).
E de tal modo Ela aumentou essa dupla plenitude, de dia a dia, de momento a momento, que chegou a um ponto imenso e inconcebível de graça, de sorte que o Altíssimo a fez tesoureira de todos os seus bens, dispensadora de suas graças, para enobrecer, elevar e enriquecer a quem Ela quiser, para fazer entrar quem Ela quiser no caminho estreito do Céu, para deixar passar, apesar de tudo, quem Ela quiser pela porta estreita da vida eterna e para dar o trono, o cetro e a coroa de rei a quem Ela quiser. Jesus é em toda parte e sempre o fruto e o Filho de Maria; e Maria é em toda parte a verdadeira árvore que dá o fruto da vida e a verdadeira mãe que o produz. [...]
Todos os ricos do povo, para me servir da expressão do Espírito Santo (Sl 44, 13), suplicarão, conforme a explicação de São Bernardo, vossa face em todos os séculos, e particularmente no fim do mundo; isto é, os mais santos, as almas mais ricas em graça e em virtudes, serão os mais assíduos em rogar à Santíssima Virgem que lhes esteja sempre presente, como seu perfeito modelo a imitar, e que os socorra com seu auxílio poderoso. [...]
As grandes almas, cheias de graça e de zelo, serão escolhidas em contraposição aos inimigos de Deus, a borbulhar em todos os cantos, e serão especialmente devotas da Santíssima Virgem, esclarecidas por sua luz, alimentadas de seu leite, conduzidas por seu espírito, sustentadas por seu braço e guardadas sob sua proteção, de tal modo que combaterão com uma das mãos e edificarão com a outra (cf. Ne 4, 17).
Com a direita combaterão, derrubarão, esmagarão os hereges com suas heresias, os cismáticos com seus cismas, os idólatras com suas idolatrias e os ímpios com suas impiedades; e com a esquerda edificarão o templo do verdadeiro Salomão e a cidade mística de Deus, isto é, a Santíssima Virgem que os Santos Padres chamam “o templo de Salomão” e a “cidade de Deus”. Por suas palavras e por seu exemplo, arrastarão todo mundo à verdadeira devoção, e isto lhes há de atrair inimigos sem conta, mas também vitórias inumeráveis e glória para o único Deus.
Nota:(*) Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, editora Vozes Ltda., Petrópolis, 6ª Edição, 1961, pp. 45 e ss.