segunda-feira, 6 de abril de 2009

Devoção a Maria Santíssima III

Prosseguimos com as considerações de São Luís Maria Grignion de Montfort em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem,(1)* sobre a necessidade da devoção a Nossa Senhora

Pois que Jesus é agora mais do que nunca o fruto de Maria, como lhe repetem mil e mil vezes diariamente o Céu e a Terra: "... e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus" –– é certo que Jesus Cristo, para cada homem em particular que o possui, é tão verdadeiramente o fruto e obra de Maria como para todo o mundo em geral.

Deste modo, se qualquer fiel tem Jesus Cristo formado em seu coração, pode atrever-se a dizer: "Mil graças a Maria! Este Jesus que eu possuo é, com efeito, seu fruto, e sem Ela eu jamais o teria". Ó mistério da graça, que os réprobos desconhecem e os predestinados conhecem muito pouco.

Maria é a Rainha dos corações

Do que ficou dito, deve-se concluir evidentemente que:
Primeiro, Maria recebeu de Deus um grande domínio sobre as almas dos eleitos; pois Ela não pode estabelecer neles sua residência, como Deus Pai lhe ordenou; não pode formá-los, nutri-los, fazê-los nascer para a vida eterna, como sua mãe; possuí-los como sua herança e partilha; formá-los em Jesus Cristo e Jesus Cristo neles; não pode implantar em seus corações as raízes de suas virtudes e ser a companheira inseparável do Espírito Santo em todos os seus trabalhos de graça; não pode, repito, fazer todas estas coisas se não tiver direito e domínio sobre suas almas, por uma graça singular do Altíssimo. E esta graça, que lhe deu autoridade sobre o Filho único e natural de Deus, lhe foi concedida também sobre seus filhos adotivos, não só quanto ao corpo, o que seria pouco, mas também quanto à alma.

Maria é necessária ao nosso fim último

Em segundo lugar, é preciso concluir que a Santíssima Virgem, sendo necessária a Deus –– duma necessidade chamada hipotética, devido à sua vontade –– é muito mais necessária aos homens para chegarem ao seu último fim. Não se confunda, portanto, a devoção à Santíssima Virgem com a devoção aos outros santos, como se não fosse mais necessária que a destes, e apenas de superrogação.

O douto e piedoso Suarez, da Companhia de Jesus, o sábio e devoto Justo Lípsio, doutor da universidade de Lovaina, e muitos outros, provaram incontestavelmente, apoiados na opinião dos santos Padres –– entre outros, Santo Agostinho, Santo Efrém, diácono de Edessa, São Cirilo de Jerusalém, São Germano de Constantinopla, São João Damasceno, Santo Anselmo, São Bernardo, São Bernardino, Santo Tomás e São Boaventura –– que a devoção à Santíssima Virgem é necessária à salvação, e que é um sinal infalível de condenação não ter estima e amor à Santíssima Virgem. Ao contrário, é indício certo de predestinação ser-lhe inteira e verdadeiramente devotado” (2).

Nota:

1*. Editora Vozes Ltda., Petrópolis, 6ª Edição, 1961.

2*. A verdadeira devoção à Santíssima Virgem consiste em se lhe devotar e entregar. O culto de dulia (aos santos) é a dependência, a servidão (Santo Tomás, - S. Theol. 2-2, q.103, a.3, in fine corp.); o culto de hiperdulia consiste numa dependência mais perfeita à Santíssima Virgem, ou, em outras palavras, na escravidão de amor preconizada por São Luís Maria de Montfort.